28 de outubro de 2025

Afri News

Mulher de 79 anos vivia há cinco décadas em condição de escravidão no Rio

Idosa viveu mais de 50 anos trabalhando para a mesma família, sem salário, férias ou descanso

• 27/10/2025
Thumbnail
Crédito: Agência Brasil/EBC

O Brasil de 2025 ainda carrega marcas do século XIX. Uma trabalhadora doméstica de 79 anos foi resgatada de situação análoga à escravidão no bairro de Padre Miguel, Zona Oeste do Rio de Janeiro, após mais de cinco décadas trabalhando para a mesma família sem salário, férias ou qualquer registro em carteira.

A operação foi conduzida pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) com apoio do Ministério Público do Trabalho e da Polícia Federal. A idosa, que dormia em um quarto dentro da casa onde trabalhava, era responsável pelos cuidados de uma mulher centenária e chegava a ser acordada várias vezes durante a madrugada para prestar assistência.

Sem folgas, sem 13º, sem vínculo formal e com saúde fragilizada, ela viveu por mais de meio século sob condições que o Estado brasileiro define como trabalho escravo contemporâneo, quando há jornada exaustiva, servidão ou restrição da liberdade por dependência econômica ou emocional.

Após o resgate, os auditores do MTE calcularam cerca de R$ 60 mil em verbas rescisórias e indenizações trabalhistas. O Ministério Público firmou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com os empregadores, garantindo que a vítima receba um pagamento vitalício e seja acompanhada por uma equipe de assistência social.

Segundo os fiscais, a mulher acreditava “fazer parte da família”, mas vivia uma relação de dependência marcada por abuso, isolamento e ausência de direitos.

Mesmo após a aprovação da PEC das Domésticas, em 2013, e de avanços na legislação trabalhista, a realidade de muitas profissionais ainda é a da precarização e da invisibilidade. Segundo dados do IBGE, mais de 70% das trabalhadoras domésticas no Brasil são mulheres negras, e a maioria segue sem registro formal.

O resgate de uma mulher de 79 anos em condições degradantes não é um caso isolado. De acordo com o MTE, mais de 3 mil pessoas foram resgatadas de situações análogas à escravidão no Brasil apenas em 2024, e entre as principais vítimas estão trabalhadoras domésticas, empregadas rurais e cuidadoras.

TAGS: