Representatividade
Betty Mae Agi vence o The Best Speaker Brasil 2025 em uma final que mostrou que a potência preta também existe no silêncio
Com R$ 1 milhão via incentivo estadual, a chegada do festival marca uma nova fase para a economia criativa negra na Bahia
O momento mais marcante da final do The Best Speaker Brasil 2025 não teve fogos, gritos ou aplausos de pé. Teve silêncio. Um silêncio bonito, respeitoso e simbólico, criado por uma plateia inteira que levantou as mãos para celebrar Betty Mae Agi, mulher negra, autista, biomédica, ativista e, agora, a grande campeã do reality de oratória mais disputado do país.
A cena aconteceu neste sábado (29), na Catedral Metropolitana de Porto Alegre, e viralizou por um motivo simples: quando uma mulher negra é o centro da história, o mundo ao redor muda junto. E muda com cuidado. Betty tem hipersensibilidade auditiva, e o público escolheu comemorar sem som, só presença. Só afeto. Só reconhecimento.
Quem é Betty Mae Agi?
Antes de subir ao palco do TBS, Betty já carregava uma trajetória que, por si só, já é história. Ela e a irmã, Brenda Agi, foram reconhecidas em 2020 pela ONU como duas das 100 pessoas negras mais influentes do mundo. Juntas, criaram a ONG Compaixão Internacional, que distribui chinelos para comunidades vulneráveis, um gesto simples, mas que nasceu de uma vivência que transformou ambas em 2011, durante um trabalho voluntário na África.
Betty é biomédica, ativista do autismo, mulher preta do Centro-Oeste brasileiro e alguém que entendeu cedo que sua história tinha uma força que precisava ser dita em voz alta. E foi exatamente isso que ela fez.
A apresentação que conquistou o Brasil
No palco, Betty entregou uma fala de 15 minutos que misturou vivência, dor, política, ciência, identidade e coragem. Falou sobre ser uma mulher negra autista em um país que ainda luta para entender a neurodiversidade. Falou sobre inclusão como prática, não como slogan. Falou sobre potência nascida da experiência, não de teoria.
Os jurados Gabriela Prioli, Fabrício Carpinejar, Martha Gabriel e Luis Justo se emocionaram. O público também. E, quando ela foi anunciada vencedora entre 35.639 inscritos, o gesto coletivo do silêncio virou o símbolo de uma final que disse muito, sem dizer nada.
Ao receber o prêmio, Betty deixou uma das falas mais fortes da temporada:
“Se você quer fazer história, não importa se vai fazê-la sentado ou em pé. Faça do jeito que puder, para que outras pessoas também possam fazer.”
É simples. É direto. É real. É sobre abrir caminho onde ninguém abriu antes, e deixar a porta destrancada para quem vem depois.
Em um país onde tantas pessoas negras ainda lutam para serem ouvidas, vistas, consideradas, Betty coloca outra camada nesse debate: quem é que pode ocupar o palco? Quem é que pode ser referência? Como a neurodiversidade atravessa corpos negros? E quem está construindo espaços seguros para essas narrativas?
A final do TBS 2025 mostrou que o Brasil está ouvindo novas vozes. E que essas vozes não são só técnicas, são vivências, são territórios, são histórias que carregam mundos.
Betty leva para casa R$ 1 milhão em prêmios, mas leva, principalmente, a chance de transformar ainda mais vidas com a própria trajetória.




