6 de dezembro de 2025

Representatividade

Gustavo Fagundes, o primeiro bailarino brasileiro contratado pela Universal Studios Beijing

Artista de 25 anos transforma dança, técnica e visão estratégica em carreira internacional que atravessa Turquia, Egito e China

Redação Africanize | 28/11/2025
Thumbnail
- Crédito: @gus.dancer

Na zona leste de São Paulo, um menino imitava Michael Jackson nas festas de família sem imaginar que, anos depois, cruzaria oceanos para se tornar o primeiro bailarino brasileiro contratado pela Universal Studios. Esse menino é Gustavo Fagundes, 25 anos, dançarino e acrobata que hoje integra o elenco da Universal Studios Beijing, atuando em produções que conquistaram prêmios internacionais e reconhecimento dentro da maior indústria de parques temáticos do mundo.

A trajetória não começou no palco, mas dentro de casa. Filho único de mãe solo, Gustavo encontrou na dança uma saída, uma identidade e, mais tarde, uma profissão. A capoeira foi seu primeiro território de disciplina, resistência e acrobacia. Anos depois, a cultura urbana se tornaria seu lugar de maturidade artística. O grupo de hip-hop S.O.G., ligado à igreja que frequentava, o apresentou ao break, aos eventos, às batalhas e ao universo das danças urbanas de São Paulo. Em uma dessas batalhas, venceu, e a vitória acendeu a ideia de seguir carreira.

A virada aconteceu na adolescência, quando decidiu prestar o vestibulinho para o curso técnico de dança da ETEC de Artes. Não atingiu a nota necessária na prova teórica, mas tirou o 1º lugar no teste prático. No ambiente da ETEC, encontrou novas linguagens, artistas do teatro, da moda e da música, e uma rede que futuramente abriria portas para sua carreira.

O caminho, porém, não teve atalhos. A família oferecia afeto, mas não havia referencial artístico por perto. O maior desafio foi emocional: acreditar em um futuro que ninguém ao redor conseguia visualizar. Com o tempo, Gustavo entendeu que precisaria dominar mais que técnica.

“O que realmente exigiu estudo e transformação foi perceber meu valor como artista, aprender a negociar, a comunicar e a construir carreira”, afirma.

No Brasil, acumulou passagens marcantes. Dançou na abertura da Copa América 2019, diante de mais de 47 mil pessoas, ao lado de Léo Santana e Karol G. Participou do quadro “Grana ou Fama”, no programa do Faustão, estrelou campanha da Riachuelo e dividiu cena com IZA em publicidade. Atuou em videoclipes, peças teatrais, projetos audiovisuais e apresentações na rede SESC, o que ampliou sua versatilidade e consolidou sua presença cênica.

A primeira porta internacional se abriu quando foi selecionado pela empresa turca Seans Organization, responsável por recrutar artistas para hotéis de luxo. Da Turquia, seguiu para o Egito, onde atuou em resorts da franquia Rixos. Cada país, cada palco, cada público fortaleceu seu repertório e seu olhar.

Foi dessa bagagem que nasceu o passo mais importante: um processo seletivo rigoroso para integrar o elenco artístico da Universal Studios Beijing, envolvendo testes técnicos, avaliações acrobáticas e entrevistas. Gustavo foi aprovado, e fez história.

Na China, participou de produções como o Spring Carnival 2024, o espetáculo natalino Winter Holiday 2024, apresentado no Hollywood Amphitheatre, e o Universal’s Half Time Show, no qual assina um solo premiado com o IAAPA Brass Ring Award, uma das honrarias mais importantes do setor de parques. Recebeu ainda o prêmio interno Best Partner, destinado aos artistas que se destacam pela excelência técnica e pela colaboração.

Sua estética também se tornou marca: referências urbanas dos anos 1990 e 2000, cabelo, postura, silhueta e estilo que dialogam com a cultura que o formou, e que agora circula em um dos maiores palcos do mundo. Gustavo carrega a periferia de São Paulo com intenção, estratégia e consciência.

Depois de atuar na Turquia, no Egito e na China, o artista reflete sobre o significado de representar o Brasil:

“Eu acredito que, antes de conquistar o mundo, você conquista sua casa. Primeiro, sua família começa a acreditar no que você faz, o dançarino da família. Depois, seu bairro te reconhece; sua cidade te abraça; seu trabalho atravessa estados; sua arte alcança pessoas que você nunca viu. Até que chega o momento em que você entende que está pronto para levar essa mensagem para além das fronteiras. E não importa o país, a primeira pergunta é sempre a mesma: Where are you from?. É nessa hora que você sente a responsabilidade e o orgulho de representar a sua cultura no mundo”, finaliza Gustavo Fagundes.

TAGS:
AUTOR:
Redação Africanize