Representatividade
Brasil registra salto histórico na população indígena, segundo Censo 2022
Dados do IBGE mostram avanço histórico na autodeclaração indígena e reforçam a pluralidade cultural e linguística do país
O Brasil é ainda mais diverso do que imaginávamos. Segundo o Censo 2022, divulgado pelo IBGE, o país agora tem 1,69 milhão de pessoas que se declaram indígenas, um aumento de 88% em relação a 2010. É o maior salto registrado desde que o levantamento começou a mapear as populações originárias, e revela algo mais profundo do que números: um movimento de reconhecimento, resistência e afirmação de identidade.
Os novos dados também apontam o crescimento no número de povos e línguas identificados. O levantamento registra 391 povos indígenas e mais de 150 línguas faladas em todo o território, uma prova viva de que, mesmo diante de séculos de apagamento, as vozes indígenas seguem ecoando em cada canto do país.
Pela primeira vez na história, o Censo mostra que mais da metade da população indígena (53,9%) vive em áreas urbanas. São pessoas que carregam suas culturas para dentro das cidades, adaptando rituais, modos de vida e idiomas à rotina contemporânea sem abrir mão das raízes.
Ainda assim, o vínculo com a terra permanece forte: 46% dos indígenas vivem em territórios tradicionais, espalhados por mais de 8,5 mil localidades identificadas pelo IBGE. O dado evidencia o quanto os povos originários seguem sendo guardiões da biodiversidade, da memória e da espiritualidade do Brasil.
As mais de 150 línguas registradas formam um mosaico impressionante de diversidade. São idiomas de diferentes troncos linguísticos, como o Tupi, o Macro-Jê e o Aruak, transmitidos por gerações que preservam histórias, mitos e saberes por meio da oralidade.
Cada língua representa uma forma única de ver o mundo e muitas delas correm risco de desaparecer. A presença dessas línguas no Censo não é apenas um dado estatístico, mas um gesto político de reconhecimento da pluralidade que sustenta o país.
O aumento no número de pessoas que se declaram indígenas mostra também o efeito de um movimento coletivo de retomada e orgulho identitário. Jovens urbanos, comunidades de retomada e coletivos culturais têm reivindicado suas origens com mais visibilidade, fortalecendo um processo de reparação histórica.




