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Professor congolês relata constrangimento em cartório no Brasil: “Eu só queria escolher um nome africano para o meu filho”
Naturalizado brasileiro, Abed Betoko denuncia que foi questionado ao tentar registrar o nome do filho, Zion Nzobale
O professor de francês Abed Betoko, de 36 anos, viveu no Brasil um episódio que mistura burocracia, constrangimento e resistência. Nascido na República Democrática do Congo e naturalizado brasileiro em 2016, ele tentou registrar o filho recém-nascido com o nome Zion Nzobale Costa Betoko, uma homenagem às suas origens africanas e ao significado espiritual de cada palavra. O que era para ser um momento de celebração se transformou em humilhação.
Abed contou que, ao chegar ao cartório, foi questionado e constrangido pelos funcionários, que pediram justificativas para o nome escolhido.
“Eu só queria escolher um nome africano para o meu filho. Um nome que refletisse quem somos, nossa ancestralidade e nossa fé”, desabafou em entrevista.
Segundo ele, o nome foi visto com desconfiança e chegou a ser considerado “inadequado” para registro.
O caso reacende o debate sobre racismo institucional e o direito à identidade negra no Brasil, um país que ainda impõe barreiras sutis à expressão de origens não europeias. Pela legislação brasileira, cartórios podem contestar nomes que “exponham a criança ao ridículo”, mas especialistas alertam que essa justificativa vem sendo usada de forma arbitrária e muitas vezes reforçando padrões coloniais e eurocêntricos.
Para Abed, o episódio vai além da burocracia: é sobre pertencimento.
“Quando questionam um nome africano, questionam também nossa história, nossa dignidade e nossa presença neste país”, afirmou o professor.
Entre debates nas redes e manifestações de apoio, o caso de Abed simboliza uma luta silenciosa travada diariamente por milhares de pessoas negras e imigrantes: a de existir com o próprio nome, com sua língua, sua cultura e sua verdade.




