23 de outubro de 2025

Cultura

Os Bateristas Reais do Burundi: o som ancestral que ecoa poder, fé e identidade

Reconhecidos pela UNESCO, os tambores sagrados do Burundi representam uma das expressões culturais mais poderosas da África

• 07/10/2025
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Reprodução: @africandrumming

Muito antes de serem vistos como espetáculo, os Bateristas Reais do Burundi eram, e ainda são, guardiões de uma tradição ancestral que carrega a batida do poder e da espiritualidade. A cada toque, os tambores contam a história de um povo que aprendeu a transformar ritmo em resistência.

A tradição surgiu no século XVII, ligada à antiga monarquia do país. Na época, os tambores, especialmente o karyenda, considerado sagrado, simbolizavam a voz do rei e eram tocados em coroações, funerais e rituais de fertilidade. A percussão marcava o compasso da vida política e espiritual do reino, transmitindo mensagens que uniam a comunidade.

Com o passar dos séculos, os Royal Drummers of Burundi tornaram-se referência mundial. Suas apresentações combinam força física, dança e sincronia, criando um espetáculo quase hipnótico. O tambor central, chamado inkiranya, é tocado por vários percussionistas em diferentes momentos, enquanto outros tocam tambores auxiliares, dançam e carregam os instrumentos sobre a cabeça, uma coreografia que representa união e continuidade.

A consagração internacional veio nos anos 1980, quando o grupo participou do festival WOMAD, no Reino Unido, levando o som do Burundi a palcos globais. Desde então, sua influência atravessou fronteiras, inspirando artistas e bandas ocidentais como Bow Wow Wow e Adam & The Ants. Em 2014, a UNESCO reconheceu a dança ritual do tambor real como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, selando o valor histórico e simbólico dessa tradição.

Mesmo após o fim da monarquia, os tambores continuam sendo símbolo de orgulho nacional e espiritualidade. Hoje, eles enfrentam novos desafios, como restrições de gênero impostas pelo governo e a pressão do turismo cultural, mas resistem como uma das formas mais puras de expressão africana.

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