Cultura
Os Bateristas Reais do Burundi: o som ancestral que ecoa poder, fé e identidade
Reconhecidos pela UNESCO, os tambores sagrados do Burundi representam uma das expressões culturais mais poderosas da África

Muito antes de serem vistos como espetáculo, os Bateristas Reais do Burundi eram, e ainda são, guardiões de uma tradição ancestral que carrega a batida do poder e da espiritualidade. A cada toque, os tambores contam a história de um povo que aprendeu a transformar ritmo em resistência.
A tradição surgiu no século XVII, ligada à antiga monarquia do país. Na época, os tambores, especialmente o karyenda, considerado sagrado, simbolizavam a voz do rei e eram tocados em coroações, funerais e rituais de fertilidade. A percussão marcava o compasso da vida política e espiritual do reino, transmitindo mensagens que uniam a comunidade.
Com o passar dos séculos, os Royal Drummers of Burundi tornaram-se referência mundial. Suas apresentações combinam força física, dança e sincronia, criando um espetáculo quase hipnótico. O tambor central, chamado inkiranya, é tocado por vários percussionistas em diferentes momentos, enquanto outros tocam tambores auxiliares, dançam e carregam os instrumentos sobre a cabeça, uma coreografia que representa união e continuidade.
A consagração internacional veio nos anos 1980, quando o grupo participou do festival WOMAD, no Reino Unido, levando o som do Burundi a palcos globais. Desde então, sua influência atravessou fronteiras, inspirando artistas e bandas ocidentais como Bow Wow Wow e Adam & The Ants. Em 2014, a UNESCO reconheceu a dança ritual do tambor real como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, selando o valor histórico e simbólico dessa tradição.
Mesmo após o fim da monarquia, os tambores continuam sendo símbolo de orgulho nacional e espiritualidade. Hoje, eles enfrentam novos desafios, como restrições de gênero impostas pelo governo e a pressão do turismo cultural, mas resistem como uma das formas mais puras de expressão africana.