29 de junho de 2025

Afri News

Feya Faku, mestre do jazz sul-africano, parte aos 63 anos

Trompetista forjou uma voz única na música improvisada do país e deixa um legado espiritual, político e sonoro

• 27/06/2025
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Foto: Tšeliso Monaheng

Feya Faku, o músico que deu ao jazz sul-africano uma linguagem própria e inconfundível, faleceu durante o sono em Basel, na Suíça, aos 63 anos. O trompetista e educador estava em turnê com o pianista Paul Hamner. Sua partida acontece num momento delicado, em que a música da África do Sul perde, em sequência, alguns de seus pilares: Louis Moholo-Moholo, Rashid Lombard, Morabo Morojele, Thabang Tabane, Suthukazi Arosi. Uma geração inteira de mestres se despede, deixando um cenário em transição.

Nascido Fezile “Feya” Faku em 1962, em New Brighton, bairro histórico de Port Elizabeth (atual Gqeberha), ele cresceu entre corais de township e bandas de sopro, elementos que moldaram a espiritualidade e o timbre distinto que o acompanhariam por toda a vida.

Formado musicalmente em plena era do apartheid, Faku transformou seu instrumento em denúncia e cura. Foi aluno de Darius Brubeck na Universidade de Natal, e representou uma ponte entre os músicos exilados e os que resistiram dentro do país. Seu som traduzia tanto a chama da luta quanto a serenidade da reconstrução.

No mundo do jazz, era reconhecido como um mestre. Seu álbum Homage é considerado essencial por músicos como Luyanda Madope, que o descreveu como “alguém com uma voz própria. Quando é ele, você sabe. É o som dele”.

Esse som reverberou além das fronteiras da África do Sul. Faku se apresentou em festivais e palcos da Europa com o grupo Pluralism, de Dominic Egli, e nos Estados Unidos com o Uhadi Ensemble, ao lado de nomes como McCoy Mrubata e a saudosa Sibongile Khumalo.

Mas, apesar do reconhecimento internacional, nunca se afastou de suas raízes. Frequentava escolas no bairro de Kwazakhele, mantinha conversas profundas com jovens músicos – o que ele chamava de umrabulo, ou alimento intelectual – e recebia visitas com panelas de Bisto no fogo e sabedoria nas palavras. “Toda vez que você saía dele, saía diferente. Mais alto. Mais iluminado”, lembrou Madope.

Na última vez em que se apresentou publicamente, no Cape Town International Jazz Festival, foi cercado por novos e antigos parceiros de som. Como quem sabia que o tempo era precioso.

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