9 de setembro de 2025

Culinária

Caiçuma: a bebida ancestral indígena que une tradição, coletividade e resistência

Preparada com mandioca e batata doce, a bebida pode ser fermentada pela saliva ou pelo sol e segue viva nos rituais de diferentes povos originários

• 09/09/2025
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Reprodução: @helderfreirefotos | @puyanawaoficial | @ samiry_nukipuya_ofc_ | @carolpuyanawa

A caiçuma é uma das bebidas mais antigas e simbólicas da cultura indígena brasileira. Encontrada em diferentes povos da Amazônia, como os Yawanawá e os Puyanawa, ela é mais do que uma receita: é um ritual que atravessa gerações, fortalecendo vínculos comunitários e espirituais.

Em algumas tradições, como entre as mulheres Yawanawá, o processo envolve cozinhar e mastigar a mandioca para liberar enzimas da saliva que iniciam a fermentação. A prática, que pode causar estranhamento, é um conhecimento ancestral compartilhado por outros povos no mundo: no Japão, por exemplo, métodos semelhantes foram usados em bebidas fermentadas no passado.

O resultado é uma bebida encorpada, turva e levemente adocicada. Quando fresca, é nutritiva e sem álcool; mas, com mais dias de fermentação, pode adquirir leve teor alcoólico, semelhante a uma cerveja artesanal suave.

Já entre os Puyanawa, no Acre, a caiçuma é chamada de ŪBA. Preparada a partir da mandioca (atsa) e da batata doce (kari), a bebida é feita coletivamente: as mulheres colhem a mandioca nos roçados, descascam, cozinham e amassam junto da batata até formar uma massa quase líquida. Em seguida, o preparo vai para grandes tambores, onde fermenta naturalmente por três a cinco dias sob o sol.

A caiçuma está presente em rituais, celebrações e momentos comunitários. No Festival Atsa Puyanawa, por exemplo, é uma das bebidas centrais, servida durante os seis dias de festa, reforçando seu papel como elo de identidade, memória e resistência cultural.

Reprodução: @helderfreirefotos | @puyanawaoficial | @samiry_nukipuya_ofc_ | @carolpuyanawa

Mais do que um sabor, a caiçuma carrega a sabedoria indígena sobre a terra, o corpo e a coletividade. Um patrimônio vivo que segue fermentando não apenas mandioca e batata doce, mas também a força da ancestralidade.

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