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Polícia entra armada em escola após denúncia contra desenho de Iansã e caso levanta debate sobre intolerância religiosa
Direção nega doutrinação e afirma que atividade fazia parte do conteúdo obrigatório de História e Cultura Afro-Brasileira
Um episódio ocorrido na EMEI Antônio Bento, na zona oeste de São Paulo, expôs uma combinação perigosa entre intolerância religiosa, desinformação e uso desproporcional da força policial dentro de um ambiente escolar. No dia 12 de novembro, policiais militares armados, entraram na escola após um pai denunciar que sua filha, era obrigada a ter aula de religião africana e reclamar de uma atividade pedagógica que incluía o desenho de Iansã, orixá da tradição afro-brasileira
A denúncia ocorreu um dia depois de o homem retornar à escola para protestar contra a atividade, chegando a rasgar um mural com desenhos infantis exposto no corredor. A direção relatou que tentou dialogar e explicar que a proposta fazia parte do conteúdo obrigatório de História e Cultura Afro-Brasileira, previsto pela Lei 10.639/03, mas o pai insistiu que a filha teria sido “forçada a ter aula de religião africana”.
Em vez de seguir os canais formais da rede de ensino, o responsável acionou a Polícia Militar, que entrou no prédio sem autorização da gestão escolar. Segundo relatos, os policiais acessaram a escola pela área externa, ignorando a portaria, e circularam pelos corredores questionando funcionários. Para a diretora, Aline Aparecida Floriano Nogueira, mulher negra, a abordagem foi “grosseira, intimidadora e desnecessária”. “Me senti vulnerável”, afirmou à reportagem.
A atividade que motivou a denúncia fazia parte de uma leitura coletiva do livro “Ciranda em Aruanda”, de Liu Olivina, seguida de desenhos produzidos pelas crianças. A obra aborda elementos da cultura afro-brasileira de maneira lúdica e educativa, exatamente como orientam as diretrizes curriculares municipais e a legislação nacional. Não havia caráter religioso, mas sim pedagógico.
Diante da presença policial, a supervisão escolar e a Guarda Civil Metropolitana foram chamadas para acompanhar a situação. Após quase uma hora dentro da escola, os policiais deixaram o local, mas permaneceram conversando com o pai do lado de fora. A professora responsável pela atividade registrou boletim de ocorrência por ameaça, enquanto a Secretaria de Segurança Pública informou que vai apurar a conduta da equipe, incluindo a análise das câmeras corporais.
A Diretoria Regional de Ensino do Butantã também se manifestou, repudiando o episódio e reafirmando que a escola agiu em conformidade com a lei. Na nota, a DRE destacou que “as experiências promovidas às crianças não possuem caráter doutrinário, mas pedagógico e cultural”, e que manifestações de intolerância não serão toleradas.
Como resposta, a comunidade escolar e organizações sociais anunciaram uma mobilização no dia 25 de novembro, às 15h30, com o tema: “Ato político e cultural em apoio à EMEI Antônio Bento, em defesa da educação antirracista e contra a violência policial”.




