Cultura
História do passinho: das favelas cariocas às pistas internacionais
De ginga periférica a patrimônio cultural, a dança que o mundo aprendeu a assistir e aplaudir

Nos últimos anos, o passinho encontrou ainda mais projeção em eventos de alcance global como o Red Bull Dance Your Style, maior campeonato de danças urbanas do mundo, e o Red Bull Rabisca, projeto que mistura improviso, música e performance em batalhas que celebram a cultura de rua. Esses palcos reforçam a dimensão internacional que o passinho conquistou, levando a linguagem criada nas favelas do Rio para públicos diversos, conectando novas gerações e ampliando sua legitimidade cultural.
Um dos nomes que simbolizam essa expansão no Brasil é André Oliveira, conhecido como Andrezinho DB. Ele se tornou embaixador do Brasil no Red Bull Dance Your Style Mundial, além de liderar seu grupo de passinho. André é reconhecido pela criatividade, técnica e presença de palco. Transformou sua trajetória em referência para novas gerações, foi o vencedor do Red Bull Dance Your Style 2023 no Brasil e representou o país na final mundial, na Alemanha.
Mas essa história começa bem antes. O passinho nasceu no começo dos anos 2000 nos bailes funk das favelas cariocas. Rápido no pé, inventivo no tronco, ele mistura referências de break, samba, capoeira e frevo, num repertório que sempre teve a criatividade da juventude periférica como motor. O empurrão para além das comunidades veio com a internet: Orkut e YouTube transformaram duelos locais em fenômeno global.

O ponto de virada do passinho costuma ser associado ao vídeo “Passinho Foda”, gravado em 2008 durante um churrasco no Jacaré, no Rio de Janeiro. A gravação viralizou no YouTube, inspirou uma enxurrada de “vídeos-resposta” em diferentes favelas e consolidou a dança como linguagem digital e comunitária, um verdadeiro jogo de trocas, cópias e inovações em série. O registro, ainda disponível na plataforma, virou até caso de estudo sobre estética e circulação cultural.
Com a explosão online, o movimento saiu das telas para as ruas. Vieram as batalhas presenciais, organizadas com regras, jurados e circuitos próprios. Esse momento de transição foi capturado no documentário “A Batalha do Passinho” (2012), de Emílio Domingos, que apresentou ao país, e ao exterior, personagens e estilos que já reconfiguravam o funk carioca.
Na década seguinte, o passinho atravessou fronteiras e chegou ao mainstream. O Dream Team do Passinho ajudou a transformar a energia das rodas e batalhas em produto pop, com clipes, presença em programas de TV e campanhas publicitárias. Entre os destaques, a música “Todo Mundo Aperta o Play”, que embalou a atmosfera da Copa de 2014 e levou o estilo a um público ainda maior.
Dois anos depois, veio o ápice da consagração: em 5 de agosto de 2016, o passinho brilhou na abertura dos Jogos Olímpicos do Rio, no Maracanã, ao som do clássico “Rap da Felicidade”. Foi o selo definitivo de que a dança de favela já ocupava o centro de um espetáculo global, legitimada como expressão do Brasil contemporâneo.
O reconhecimento institucional viria em 2024, quando a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro aprovou a lei que declara o passinho Patrimônio Cultural Imaterial do Estado. O gesto, mais do que simbólico, ajudou a valorizar a cultura de favela, combater o estigma sobre o funk e criar bases para políticas de salvaguarda e fomento.
E em 2025, esse movimento ganha mais força com o Red Bull Rabisca, competição que consagrou o trio Reis da Dança, formado por Andre Oliveira DB, Peterson Sidy e VN Rodrigues, no Circo Voador e reafirma o passinho como potência cultural, criativa e global das favelas cariocas para o mundo.
“É uma dança que foi marginalizada por muito tempo por ser periférica, mas que é incrível por sua resistência e capacidade…” afirma Andrézinho.

Além das batalhas, o passinho também se renova em movimentos como a Rabiscada e a Sarrada, que trazem mais improviso, criatividade e troca entre os dançarinos.
Movimentos notáveis do passinho:
- Bate Cabelo: movimento rápido que envolve a cabeça;
- Bicicletinha: um movimento que simula pedalar uma bicicleta;
- Cruzada: movimento em que um pé cruza à frente enquanto o outro desliza para trás, criando um “gancho” no corpo e servindo de base para variações;
- Pulo Fogueira: um movimento de salto sobre uma fogueira imaginária;
- Rolê: um tipo de giro nos pés;
- Sabará: passo-base do passinho, com deslocamentos para o lado, frente e trás, alternando os pés e sempre com balanço da cintura.
- Tirada: um giro simples dos pés.
Esses formatos se conectam com outros estilos, como krump, hip hop e afrohouse, mostrando que a dança criada nas favelas do Rio conversa com o mundo sem perder sua essência. É dessa mistura que surgem novos passos, repertórios mais diversos e a força de um movimento sempre em transformação.
Esses e muitos outros passinhos você poderá acompanhar na Final Mundial do Red Bull Dance Your Style, que acontece em 11 de outubro de 2025, em Los Angeles, e o público poderá assistir de diferentes formas.
Quem estiver na cidade pode garantir ingresso e ver de perto às batalhas. Os ingressos estão disponíveis aqui. Já para quem não puder estar lá, o evento terá transmissão ao vivo no TikTok e no YouTube, levando a energia das apresentações diretamente para as telas em qualquer lugar do mundo.