Filmes e séries
Aprender a Sonhar, um grito afro-indígena nos cinemas
Com estreia no dia 2 de outubro, filme de Vítor Rocha mostra a revolução das cotas raciais no ensino superior ao acompanhar as trajetórias de jovens quilombolas, indígenas e moradores de periferias.

No dia 2 de outubro de 2025, estreia nos cinemas de todo o Brasil o documentário “Aprender a Sonhar”, dirigido pelo cineasta baiano Vítor Rocha. A obra, filmada entre 2016 e 2022, acompanha a difícil e transformadora jornada de jovens quilombolas, indígenas e moradores de periferias que ingressaram no ensino superior após a criação da Lei de Cotas (12.711/2012).
O filme traz para as telas histórias como a da quilombola Marina Barbosa, formada em medicina na UFBA; Nadjane Cristina, ex-moradora de ocupação que conquista a casa própria e o diploma em serviço social; Ana Paula Rosário, que enfrenta condições precárias e a violência urbana e hoje é pesquisadora de sociologia; além de Taquari e Tamiwere Pataxó, que se graduam em Direito, conectados ao modo de vida de seu povo.
Mais do que relatos pessoais, o longa se constroi como manifesto coletivo e confirma que ocupar a universidade também é ato de resistência.
Revolução – “A política de cotas permitiu que mais de 50% dos estudantes das universidades sejam, atualmente, negros e indígenas, e fez com que nossas cosmovisões passassem a disputar o conhecimento acadêmico, contribuindo com o desenvolvimento dos saberes institucionais”, afirma Vítor Rocha.
O diretor lembra ainda que o documentário foi filmado num período “de exceção política”, em que diversos direitos estavam sob ataque.
“No entanto, houve luta, houve resistência. As jornadas que acompanhamos mostram jovens agarrados aos seus direitos constituídos, mas que estavam sob ameaça constante”, explica.
De acordo Vítor Rocha, o que se pode perceber como fruto das ações afirmativas tratadas no filme é um ambiente acadêmico profundamente reconfigurado, com novos olhares, novas propostas de estudos, novas linhas de pesquisa e o enriquecimento do diálogo entre ciência e saberes ancestrais e comunitários.
Manifesto poético – O documentário contém uma costura poética da vida dos personagens e suas tradições, revelada simbolicamente por meio do Aragwaksã – festa da (re)conquista realizada no Território Indígena Pataxó, Reserva da Jaqueira, no sul da Bahia, local primeiro da invasão colonial.
“É quando o barro, o Tawá Pataxó, também se eleva como personagem que conecta o povo ao princípio cósmico originário, lembrando, de forma profunda, que podemos sonhar com outras cosmovisões, com outros modos de vida, com uma vida mais comunitária, mais envolvida com nossa mãe terra”, destaca o cineasta, que faz alusão a “um saber distinto daqueles que separaram a humanidade da natureza para que ela pudesse ser dominada e explorada”.
“Assim como no Aragwaksã, é tempo de reafirmar que a universidade também é território a ser conquistado. É tempo de reflorestar saberes num espaço em que urge pensar os grandes problemas da humanidade e do planeta sob perspectivas antes subjugadas e silenciadas. Quem sabe sejam nelas onde encontraremos as respostas para um futuro possível?”, indaga o diretor.
🎥 Assista ao trailer
Produzido pela Caranguejeira Filmes e distribuído pela Abará Filmes, com apoio da Lei Paulo Gustavo Bahia e do Ministério da Cultura, Aprender a Sonhar é resultado de um cinema independente e baiano que se conecta diretamente às lutas sociais e ancestrais.