Blacks Leaders
Tom Mendes, o filho de Maria que transformou propósito em liderança como diretor institucional do IDBR
Voz por trás do Prêmio Sim à Igualdade Racial 2025, Tom Mendes transforma a própria trajetória em ferramenta de justiça coletiva

“Sou filho de Maria.” A frase, que carrega ancestralidade e promessa, conecta as raízes de Tom Mendes ao seu propósito. Diretor Institucional do ID_BR (Instituto Identidades do Brasil), o executivo de 35 anos é de Acari, na zona norte do Rio de Janeiro, e uma das lideranças por trás do Prêmio Sim à Igualdade Racial.
“Minha mãe fez a passagem em 2021, mas ela sempre está comigo em tudo que eu falo e faço. Ela é minha principal referência. Sou nascido e crescido em favela e um dos meus grandes propósitos é nunca voltar de mãos abanando.”, conta em entrevista à Africanize.
Não à toa, o executivo não tem poupado esforços para tornar o mercado mais diverso por meio de seu trabalho. Formado na PUC-Rio e pós-graduado na USP, hoje ele está à frente do ID_BR e lidera o Prêmio Sim à Igualdade Racial 2025, uma das principais plataformas de comunicação sobre justiça racial no país. “O prêmio é um canhão de informação. Entretem, sim. Mas, principalmente, provoca. Mostra o Brasil real, o Brasil que é negro, indígena, quilombola, ribeirinho e periférico.”

Mas alcançar a posição de liderança não foi fácil para ele. Como homem preto e favelado, precisou se empenhar mais do que o dobro. “Eu tive que adaptar algumas coisas nessa minha realidade. Então eu trabalhava todos os finais de semana, trabalhava de madrugada para poder fazer aula e, por um tempo, mantive essa rotina”, afirma.
Com diploma na mão, seguiu sua formação em nível executivo, com especialização em Gestão de Projetos pela USP e programas de formação em instituições como a Fundação Dom Cabral. Hoje, é também membro do Conselho de Ética da Abracom, palestrante e gestor com foco em impacto social, diversidade e mercado de trabalho.
Para Tom, a virada de chave em sua carreira aconteceu quando se viu desenvolvendo voz ativa em locais de influência. “O ponto de inflexão foi quando comecei a circular em espaços de poder. Não é só sobre estudar: é sobre quem te ouve, quem te aponta, quem te insere. É sobre construir capital social, não só o financeiro, mas aquele que abre portas”, destaca.
Como diretor institucional do ID_BR, o executivo afirma que não consegue trabalhar sem um propósito coletivo. “A gente já impactou mais de 700 mil pessoas, treinei mais de 100 empresas pelo Brasil. Me sinto muito motivado em trabalhar nessa frente”, explica. “Sendo um homem negro, entendendo as nuances do que é ser negro no Brasil e conseguindo ver resultado efetivo do meu trabalho no dia a dia, no aumento do número de pessoas negras e indígenas em cargos de liderança, se movimentando mais nas empresas, é muito gostoso.”
Tom Mendes deixa claro que seu trabalho é um ato político. Como ele mesmo diz: “eu sonho sendo a resposta para o sonho de outras pessoas“. Isso se reflete desde a estrutura interna do ID_BR, uma equipe com mais de 40 funcionários CLT, majoritariamente negra e formada para atuar com responsabilidade, até os grandes projetos em curso.

Com a 9ª edição do Prêmio Sim à Igualdade Racial, que acontece na próxima quarta-feira (7), no Rio de Janeiro, Tom Mendes explica que o ID_BR traz como tema o “carisma”, e não aquele que agrada, mas o que transforma. Carisma entendido como a soma entre poder, afeto e influência. É desse lugar que parte Tom Mendes, diretor institucional do instituto e um dos principais nomes por trás da engrenagem que movimenta o maior evento de reconhecimento da luta por igualdade racial no país.
“Trabalhando nas empresas, eu consigo ter efetividade nesses projetos e processos. Para mim, eu estou lutando pelo meu povo. Eu não estou vendendo chinelo, nem perfume. Estou vendendo consciência, provocação e transformação”, afirma Tom. A premiação terá transmissão na TV Globo no dia 25 de maio, após o ‘Fantástico’.
E tornar-se uma grande liderança e gerar impacto positivo com o próprio trabalho não foi tarefa fácil. “Eu não nasci em berço de ouro”, afirma Tom. Pelo contrário, ele ressalta que é fruto das políticas públicas, como aluno cotista do ProUni. “Se não fossem as políticas públicas, eu não teria me formado.” E com os frutos colhidos, ele retribui e transforma, como um verdadeiro líder.